Se você me visse, me acolheria em choro, e sentado de braços cruzados, olhando tão serio, falaria sobre as milhares vezes em que me pedia “Por favor, me ouça agora”. Me daria mais uma bronca com os olhos, tão calado, me vendo chorar em uma noite normal. Diria então depois de alguns instantes de silêncio “O tempo passa” sem mudar as expressões do rosto que eu já conhecia.
A sua conversa era assim. A sua bronca era assim. Você me colocava frente a frente e cruzava os braços. O mais interessante de você era não dar um sermão. Era encarar quase implorando para que eu lesse sua mente através do olhar. E sabe? funcionava! Você sabia que eu odiava grandes textos.
Cadê os seus conselhos? eu sinto falta. Muitas coisas aprendi, mas muitas apenas decorei. Ainda não sei o trajeto sozinha dos lugares que me trouxeram tanta paz. Você ria, mas nunca me ensinou a ir sozinha. Eu era boba, e continuo! pequenas coisas me fazem feliz, como pequenas coisas me machucam. Você não me ensinou a ser independente, se foi sem se importar se eu sabia caminhar. Eu sei que é a sua cara esse jeito de lidar. Mas eu ainda não sei ser forte, mesmo que você me segurasse pelos pulsos numa crise de choro e desespero e gritasse “PARA COM ISSO E SEJA FORTE, SEJA FORTE”.
Posso até causar algum tornado na vida das pessoas que eu gosto até hoje. Mas talvez não seja por imaturidade, e sim por dependência.
Se você me visse, diria “Você continua inocente, quantas vezes eu te avisei?”. Se você me visse, diria “Você continua COMPLICADA demais”. Se você me visse… não entenderia. Se você me visse… se você me ouvisse…